Quem
se dedica à psicodermatologia naturalmente sempre leva em consideração a
participação da mente na provocação, agravamento, manutenção ou facilitação da cura das dermatoses.
Entretanto, muito poucos são instruídos sobre esse fundamental aspecto do ser
humano. Nas escolas de medicina não há lugar para a mente e não se encontram,
no meio médico, cursos sobre mente nem
se discute o que ela é , qual a sua natureza e qual a possibilidade de
realmente existir. Neste artigo, tecemos considerações sobre esse ponto da psicodermatologia e apresentamos seus
pressupostos, que servem para embasar a convicção do que pode ser a mente e
de como utilizar seu poder para
benefício das pessoas.
Integrativos e materialistas
Entre os que se dedicam à
medicina, em todos os tempos houve aqueles que se orientam por um conceito integrativo do ser humano, que seria
constituído de uma parte física e de partes não físicas, e aqueles que têm conceito materialista, que só acreditam em
matéria.
Os integrativos entendem que o indivíduo é um conjunto inseparável de
níveis diversos de energia, que funcionam simultaneamente, interpenetrando-se e
interrelacionando-se e ocupando todos os níveis o mesmo espaço, da mesma
maneira que as ondas hertzianas estão no mesmo lugar, mas podem ser sintonizadas separadamente por
aparelhos receptores, os quais captam uma onda de cada vez. Para eles, a mente
é uma entidade, que não depende do cérebro, mas que com ele interage permanentemente.
Os materialistas “só acreditam no
que vêem, ouvem ou tocam”, colocando toda a sua crença nos cinco sentidos, ainda que saibam que esses
sentidos só conseguem perceber quatro
tipos de energia: luz, calor, som e eletricidade. O aparelho ocular só é
impressionado pelos comprimentos de onda
da luz visível, ficando todo o resto das energias, como ondas de rádio,
microondas, infravermelho, ultravioleta, raios X e raios gama fora do seu alcance. Para o aparelho ocular
no estado natural, essas outras energias não existem no universo, assim como,
para o aparelho auditivo desarmado, os sons abaixo de 20 herz e acima de 20 mil
herz também não existem.
Neurociências, cérebro e mente
As neurociências, até hoje não foi definiram convincentemente o que é mente. Uma corrente tem o conceito de
que a mente é produto do cérebro e tem a capacidade de modificar o órgão
central, sendo também por ele
modificada. Mesmo com essa convicção, ela não foi localizada
nem foi estabelecida sua natureza. Outra corrente de cientistas acredita
que a mente existe por si só e baseia sua crença em experiências que demonstram
que, em algum nível vibratório do universo, deve haver algo com extraordinárias
capacidades de influenciar o corpo humano e de criar a realidade.
Cérebro como única realidade
Em apoio ao conceito
materialista, os neurocientistas apresentam como prova o fato de que alterações
no cérebro levam a alterações na mente. Um conjunto de neurônios funcionando
junto com neurotransmissores origina um estado mental. Substâncias que afetam o
funcionamento das células cerebrais modificam pensamentos e comportamentos,
como o álcool e os psicotrópicos. Alterações na secreção de neurotransmissores
e anormalidades físicas ou funcionais no órgão têm o mesmo resultado. Aumento de ocitocina, o “hormônio do amor”,
desperta sentimentos de carinho e cuidado. Isso é suficientemente conhecido.
Portanto é fato inegável que o cérebro modifica a mente.
Entretanto, o conceito de que a
mente provém do cérebro levanta certas dúvidas. Como pode a mente, que foi gerada pelo
cérebro, ter a competência de modificar seu órgão gerador? Seria o caso de
dizer que o cérebro que cria uma mente mais poderosa do que ele é mais poderoso
do que ela? É reconhecido que o cérebro é
o órgão mais complexo do organismo. Se ele é o mais
complexo, tudo o que vem dele há de ser menos complexo e, portanto, será a ele subordinado e não poderia
comandá-lo.
Pelo conceito materialista, só a matéria age sobre a matéria. Quer dizer
que só o cérebro afeta o cérebro. Mas a
matéria é feita de átomos, que, na sua profundidade, são feitos de prótons,
nêutrons e elétrons, e dentro dos prótons, encontram-se os quarks, que já não
são mais partículas, mas flutuações de energia num imenso espaço vazio. Disso
decorre que a matéria é feita de quase cem por cento de vazio. Do cérebro, como
de todo o resto do corpo físico humano, restaria um punhado de átomos, se tudo
fosse espremido e o vazio retirado. Como esse órgão atuaria sobre si mesmo sem uma causa e
provocando estados mentais, que vão gerar comportamentos variáveis a cada
instante, se ele é feito de lampejos de energia a se deslocar no vazio? Quando
uma pessoa decide levantar-se da cama, pela manhã, isso seria originado da ativação, pelo cérebro, de um circuito
específico, que geraria a intenção de levantar e esta intenção levaria à
decisão de se pôr em pé e essa decisão, então, comandaria o cérebro para pôr em
ação toda a composição de substâncias químicas capaz de acionar os músculos
necessários para levantar-se. Daí, vem
nova dúvida: por que motivo o cérebro teria ligado aquele circuito específico?
Como ele saberia que já era hora de aquela pessoa ter a intenção de se
levantar?
Por essa teoria, o cérebro aceita sugestões da mente, que ele mesmo
criou, para funcionar diferentemente de como está funcionando. E como o cérebro
decide aceitar ou não uma sugestão da mente?
Sabe-se, por exemplo, que um fumante crônico desenvolve dependência física à nicotina, que
impregna todas as células do seu organismo, inclusive as cerebrais. Um dia, ele
conclui que aquilo faz mal à sua saúde e decide livrar-se do vício, apesar de
sentir prazer em fumar, e declara: “Não fumo mais”. E efetivamente
deixa para sempre o tabaco ainda que atravesse uma penosa crise de abstinência. Quem decidiu isso, a
mente ou o próprio cérebro? Se foi a mente,
por que o cérebro, que segregava
substâncias mediadoras do prazer sob a influência do tabaco, e o ser humano
sempre busca o prazer, concluiu que deveria cortar aquele prazer e obrigar
aquele organismo a sofrer para se livrar do vício em nome de uma idéia chamada
saúde, que até então não tinha tido importância?
Quando alguém vivencia uma situação de perigo grave, precisa decidir
enfrentar o perigo ou afastar-se dele. Como o cérebro decide entre uma atitude
ou outra? Como ele faz a correlação entre o risco de lutar e perder e o
benefício de fugir e preservar-se? E quando isso envolve uma questão moral,
como o cérebro faz uma opção moral ou imoral?
Nas situações de estresse, as áreas acionadas no cérebro são as mesmas,
quer o estresse seja real quer seja apenas uma lembrança ou uma fantasia. “Alucinações,
imaginação e ‘realmente’ ver são a mesma coisa no que diz respeito ao cérebro.
Se você olha uma varredura do cérebro de uma pessoa enquanto ela cria uma
imagem interna de, digamos, seu quarto, você verá a atividade nas mesmas áreas
de visão e reconhecimento que seriam ativadas, se ela estivesse realmente
olhando o quarto”, afirma Rita Carter, escritora especializada em medicina (1).
Como, então, a pessoa não tem dificuldade em distinguir
se está vivendo uma situação de estresse real ou apenas se lembrando do
que ocorreu ou imaginando o que pode ocorrer, se o cérebro está funcionando
igualmente?
Fatores externos a atuar sobre o organismo geram impulsos, que são
levados até o cérebro e que se transformam em pensamentos. Todas as pessoas
diferenciam um toque agressivo de um toque amoroso. Onde é feita essa distinção;
no cérebro ou na mente?
São questionamentos sobre o
conceito de que a mente é produto do cérebro, que as neurociências ainda têm
dificuldade de explicar.
Mente acima do cérebro
A corrente não materialista concebe a
mente como algo além do cérebro, que o antecede e o influencia. Ainda que seja assim, a mente necessita do
cérebro para sua manifestação, porque esse é o órgão central de comando no
corpo físico. Para isso, a mente depende da constituição e do funcionamento do
cérebro e é certo que alterações no sistema nervoso central influenciam as
expressões da mente. Por exemplo,
atividade diminuída no córtex pré-frontal, atividade aumentada no cíngulo e
atividade aumentada ou diminuída no lobo temporal correspondem a pensamentos e comportamentos
agressivos, segundo Daniel G. Amen, neurocientista clínico e psiquiatra em
Fairfield, Califórnia (2). Esse autor afirma que todos os pensamentos mandam um
sinal elétrico, que atravessa todo o cérebro e que têm verdadeiras propriedades
físicas e ensina a perceber como eles são reais com a seguinte sequência: 1) você tem um pensamento; 2) uma transmissão
elétrica atravessa seu cérebro; 3) seu cérebro libera agentes químicos; 4) você
se torna consciente do que está pensando.
O conceito de que algo não tangível existe pode ser percebido por
simples experimento. Basta a pessoa concentrar sua atenção na observação do seu
corpo, como se estivesse fora dele. Verificar sua posição e sua aparência. Apreciar
seu cérebro em ação, com seus disparos elétricos e sua secreção de substâncias
químicas mensageiras. A seguir, observar as sensações físicas que está tendo, como
calor, frio, prazer, incômodo, dor, prurido ou qualquer outra. Prosseguindo,
pode observar as emoções que está sentindo naquele momento, se prazerosas, como
calma, alegria, ou desprazerosas, como preocupação ou medo. Avançando mais, pode
observar os pensamentos que estão dominando sua atenção agora, identificar se
são pensamentos construtivos, neutros ou
tóxicos.
Nesse ponto do experimento, pode-se perguntar: quem é o observador? Não
pode ser o corpo, pois este está sendo objeto da observação; também não é o
cérebro nem são as emoções nem os pensamentos, porquanto da mesma maneira estão
sendo observados. Quem, então, está observando? Pode-se entender, nesse
experimento, que o observador não é o mesmo que o corpo, nem o mesmo que o cérebro nem as emoções nem os pensamentos. Então, pode
ser algo não material na composição do ser humano?
As pesquisas em psiconeuroimunologia demonstraram, desde seu início, que
os pensamentos, que são vibrações, condicionam o funcionamento do cérebro por sua transdução, no hipotálamo em variadas misturas de neurotransmissores, neuropeptídios e neurormônios, os quais atuam sobre os sistemas imunológico e
endócrino alterando seu funcionamento.
Essa ação da mente sobre o cérebro está hoje comprovada por pesquisas de
neuroimagem com os recursos da tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância
magnética funcional. Não há dúvida de que a mente modifica o cérebro, embora a
sensibilidade dos aparelhos ainda não tenha permitido verificar como exatamente
se dá essa transdução de uma vibração em substâncias químicas.
Roger Sperry, que foi professor no Instituto de Tecnologia da Califórnia
e recebeu o prêmio Nobel em fisiologia e medicina, em 1981, defendeu a teoria
de que estados mentais podem agir
diretamente sobre estados cerebrais, até mesmo afetando a atividade
eletroquímica em neurônios.
Em 1987, Jeffrey Schwartz, neuropsiquiatra da
Universidade da Califórnia, em Los Angeles, pesquisador no campo da aplicação
da neuroplasticidade ao transtorno obsessivo-compulsivo, iniciou uma
investigação sobre como um tratamento de
pacientes obsessivo-compulsivos poderia mudar o funcionamento do cérebro com
uma terapia cognitiva baseada na plena atenção. Com controle por tomografia por
emissão de pósitrons, ele verificou que esses pacientes apresentavam
hiperatividade do córtex frontal orbital e do corpo estriado e ouviu deles que
se sentiam como que comandados pelo cérebro, embora soubessem
muito bem que não precisavam daqueles comportamentos repetitivos. Criou uma
estratégia de quatro passos: 1) Renomear (“eu sei que não preciso disso, é meu
cérebro gerando outro pensamento obsessivo”); 2) Reatribuir (“não sou eu, é meu
transtorno); 3) Refocalizar (mudar a atenção para alguma outra coisa, mesmo que
por segundos); 4. Revalorizar (reconhecer os pensamentos perturbadores como sem
sentido, falsos, como sinais cerebrais errôneos). Após dez sessões de terapia,
sem nenhum medicamento, 12 entre 18 pacientes
mostravam melhora significativa,
acompanhada de acentuada diminuição da atividade do córtex frontal orbital.
Esse foi o primeiro estudo que comprovou que mudanças mentais intencionais podiam
alterar a química cerebral (3).
Diante dessa comprovação e de outras,
que se seguiram, pode-se questionar: e se os pensamentos forem criados por algo
imaterial, situado em algum lugar inalcançável pela fisiologia, dentro do
espectro eletromagnético ou em alguma outra esfera das vibrações do universo,
que coincidiria com o que se convencionou chamar mente? Isso resolveria a
questão da ação dos pensamentos sobre o cérebro. Nesse caso, porém, surge uma
complicação adicional: aquele que observa a mente tem o poder de mudar seus
pensamentos, como é experiência de qualquer pessoa e como a técnica de Schwartz
demonstrou. Ao se dar conta de que um pensamento lhe causa mal, o observador
pode comandar a mente a produzir outro tipo de pensamento. Por exemplo, alguém
que pense que algo não vai dar certo em algum objetivo pode concluir que, assim
como pensa negativamente, pode pensar positivamente e optar por pensar que
aquilo poderá dar certo, se ela agir com seus recursos e empenhar-se
efetivamente. E aí, tem-se que a mente já não se governa, senão o seu observador
a governa e lhe ordena pensar desta ou
daquela maneira. E, então, numa
comparação com informática, o cérebro seria o executor do conteúdo dos
pensamentos, o hardware, e a mente
seria o programa que roda no cérebro, o software; nesse caso, tem que haver um
programador, que seria o observador do corpo, das emoções e dos pensamentos. Daí
porque o cérebro não analisa, apenas executa o que foi carregado pelo observador, ou seja, pelo programador. O que o programador diz a ele, por meio dos pensamentos da mente, ele aceita.
E as pessoas têm essa intuição, pois elas se
referem a esse programador como “eu”. Perguntadas sobre quem observa o corpo,
elas respondem: “eu”. Sobre quem observa as emoções, a resposta é “eu”. Quem
observa os pensamentos, a mesma resposta: “eu”. Isso significa que o “eu” é
quem cria o programa, que vai acionar o cérebro. Os próprios neurocientistas afirmam: você pode
usar a mente para mudar o cérebro (4), mas não explicam a que “você” eles se referem. Quem é esse “eu”, que as pessoas dizem? Pode ser o
espírito, a alma, o Self, a consciência
ou que nome se lhe dê. O fato é que ninguém atribui ao seu cérebro a decisão de
mudar seus pensamentos. Ninguém diz: o meu cérebro me mandou ficar estressado
ou gostar de você ou lhe desejar bom
dia. Donald D. Hoffman, professor de ciências cognitivas na Universidade da
Califórnia, em Irvine, propõe a teoria do realismo consciente e afirma que
todos os seres humanos somos agentes conscientes e que a consciência vem
primeiro, a matéria e os campos dependem dela para existirem (5).
Portanto, criada pelo cérebro ou existente naturalmente, há algo onde se
geram os pensamentos ou por onde eles transitam, a que se dá o nome de mente,
algo estranhamente muito poderoso, a
ponto de criar a realidade. Tudo o que foi feito pelo ser humano antes de
se manifestar na matéria existiu no pensamento de alguém. Desde um simples copo
até um avião supersônico, um radar ou uma mortífera bomba de nêutrons, tudo foi
concebido no pensamento de alguém para depois surgir como obra concreta. Isso é
óbvio. Se assim é, pergunta-se: por que o organismo humano e tudo o que compõe
a natureza teriam surgido do nada, sem serem antes pensamentos de uma mente?
Outro simples e comum experimento mostra como a mente produz efeitos
fisiológicos: ao criar a representação mental de que se está espremendo um
limão na língua, quase todas as pessoas têm suas glândulas salivares ativadas,
como se o limão fosse real e, não, apenas um pensamento expresso por uma palavra. Se a mente pode isso, o que mais
ela poderá no organismo? Por que as doenças, pelo menos em parte, não poderiam
vir da mente? Por que a saúde não poderia, mesmo parcialmente, ser construída
na mente?
Mente consciente e mente inconsciente
Os que trabalham com psicodermatologia já têm essas noções na sua
concepção de medicina. Por isso, integram a mente nas conjecturas dos quadros
clínicos e nas suas orientações terapêuticas. E sabem também que a mente, seja
ela o que for, tem uma parte consciente e outra parte inconsciente. A parte
consciente é aquela que dirige os pensamentos a cada instante, que analisa,
julga, compara, pondera, decide, que raciocina.
A parte inconsciente é um
repositório de todas as capacidades, crenças, hábitos e atitudes, que ficam
armazenadas, e todas adaptações ou inadequações do indivíduo, que ficam
gravadas e das quais a pessoa não se dá conta, a não ser por ocasião de uma
introvisão por algum evento significativo ou no curso de um processo
terapêutico. A mente inconsciente não tem
a capacidade de pensar, apenas aceita e guarda tudo o que a mente consciente
envia para ela como sendo verdade. São ideias, pensamentos, atitudes, valores,
princípios.
A mente inconsciente trabalha com a emoção, não com a razão. Todos os
eventos vivamente ligados a uma intensa emoção ficam na mente inconsciente e
determinam o comportamento sempre que algo evoque aquela emoção, mesmo que a
pessoa não se lembre de por que a sente.
Todo o conjunto de crenças, construído pela pessoa ao longo dos seus
anos de vida, mas principalmente até os sete anos de idade, fica no inconsciente e dirige suas acões. Forma o seu
paradigma, isto é, aquilo que a pessoa tem como verdade em todos os campos da
vida, que faz com que ela atue desta ou daquela maneira e, quando indagada por
que age assim, ela responde que não sabe, que sempre foi assim ou porque viu
sua mãe ou seu pai agir daquele jeito ou cria uma interpretação no momento. Toda
a atividade mental de cada pessoa é inconsciente, exceto o que está no foco
consciente a cada instante. Basta
lembrar que todas as funções do organismo, que não estão sob o comando da
vontade, realizam-se independentemente de o indivíduo se lembrar de que os
sistemas respiratório, cardiovascular, digestório, urinário, o baço, o
pâncreas, os órgãos linfóides, os sexuais precisam estar funcionando. E mesmo
as ações conscientes, como caminhar, abrir uma porta, dançar, dirigir, etc. se
compõem de uma intenção (pensamento consciente) e de inúmeros eventos inconscientes, como a
contração e dilatação sinérgica de músculos, para que se realizem, constituindo
uma sequência de eventos não controlados pelo consciente.
Se a mente inconsciente tem o poder de controlar todas as inúmeras
reações que se passam em cada célula a cada segundo (seis trilhões, conforme
Chopra) (6), seu poder é
incomensurável. O inconsciente é o repositório de todas as capacidades do
indivíduo, a maioria das quais quase nunca vem ao campo consciente. É por isso
que todas as pessoas já tiveram a experiência de passar por algum fato
extraordinário e, depois, ao pensar como conseguiu vencê-lo, dizer: Não sei de
onde eu tirei força (ou habilidade ou capacidade) para fazer o que fiz; nunca
pensei que seria capaz disso. Essa competência ela não tirou do nada, sempre esteve dentro dela e a sua disposição,
mas nunca tinha sido reconhecida a ponto de ela não saber que a tinha.
Assim como o
inconsciente detém as capacidades da pessoa, ali se encontram também suas
fraquezas, armazenadas sob a forma de crenças limitantes. O fato de essas
crenças não estarem conscientes não impede que funcionem e gerem pensamentos
que criam dificuldades e são responsáveis por perturbações energéticas e por
influxos químicos desequilibrantes.
É na
esfera inconsciente que se situam as origens
de muitas dermatoses, principalmente nas pessoas que
sofreram algum trauma emocional não resolvido,
que levou a um estresse pós-traumático, ou naquelas que não aprenderam com as
vivências da infância e sofrem de medos
cujas causas não estão mais presentes, nas que têm mania por doença e cultivam
assuntos doentios, nas que se identificam
com doenças que elas vêem em outras
pessoas, nas cronicamente ansiosas, nas estressadas, nas que sempre se sentem
vitimas, nas que se crêem impotentes para vencer ou deserdadas da sorte.
Elas não agem assim porque querem, mas porque há um impulso inconsciente, que
as leva a esses comportamentos. E não é acaso o surgimento de doenças nessas
pessoas, como todos os que prestam atenção à interação mente-corpo observam
cotidianamente.
Cérebro e mente interagem
No momento atual, a situação das pesquisas nos traz à
situação de saber que a atividade cerebral atua sobre a mente e que esta também
age sobre o cérebro. Existe, pois, uma interação permanente entre cérebro e
mente.
Os cientistas
materialistas ainda não conseguiram meios de provar sua teoria, tomada como
definitiva, de que a mente é produto do cérebro. Têm como certo e indiscutível
que o não físico não pode se manifestar
no físico. Como diz Leonard Mlodinow, professor de física no Instituto de
Tecnologia da Califórnia: “Ainda não estamos perto de descobrir a base da
‘mente’ ou da consciência como um fenômeno que resulta das interações entre
neurônios. Mas todos os dias surgem novas evidências em apoio à idéia de que
experiências mentais, como beleza, amor, esperança e dor são produzidas pelo
cérebro físico”. Ao que Deepak Chopra, médico indiano especializado em
endocrinologia nos Estados Unidos, autor de inúmeros livros sobre medicina
integrativa, saúde e filosofia de vida, retruca: “Por que devemos afirmar que a
mente cria a matéria ou vice-versa? Essa necessidade desaparece, se
concordarmos que não há um ponto específico nos últimos 13,7 bilhões de anos em
que a matéria de repente aprendeu a pensar e a sentir” (7).
Já os cientistas integrativos, com o emprego dos modernos meios de
análise da atividade cerebral, têm feito
progressos nos indícios de que a mente modifica o cérebro. Resta-lhes,
entretanto, a questão de comprovar que a mente independe do cérebro, mesmo
funcionando no mesmo espaço e dele recebendo estímulos.
Amit Goswami,
físico nuclear indiano, que foi professor de física quântica por 32 anos no
Instituto de Física Teórica da Universidade de Oregon, com base na física
quântica dá aparente solução a essa questão. Ele não vê problema de dualismo
mente-corpo, porque todos os corpos são possibilidades na consciência antes da
manifestação. “Consciência não é mente, é o fundamento de todo ser, o fundamento
tanto da matéria como da mente. Matéria e mente são ambas possibilidades de
consciência. Quando a consciência converte essas possibilidades num evento de
colapso de experiência real, algumas possibilidades sofrem o colapso como
físicas e algumas como mentais. A consciência é claramente mediadora da
interação entre mente e corpo e não existe dualismo. Do mesmo modo que é
incorreto dizer que o azul cria o
amarelo ou que o vermelho procede do verde, assim não é uma metáfora aplicável
dizer que a mente cria o corpo ou que a mente vem do corpo. Os dois são
resultados correlatos de uma única causa de possibilidade, que produz colapso
na consciência” (8). (Colapso é a
diminuição da energia de velocidade de giro de onda, que se torna mais densa e
assume qualquer forma vibratória, de modo que o corpo físico, que recebe e
emite vibrações possa traduzir essa informação para que o cérebro a reconheça).
Pressupostos da mente
Em face das pesquisas,
observações, fatos e vivências gerais podemos
formular os pressupostos da mente. São princípios de ação da mente observáveis,
mas cujo mecanismo não foi ainda demonstrado de maneira rigorosamente
científica. Eles podem dar apoio no manejo de problemas
psicodermatológicos e no melhor entendimento da complexa interação pelo qual
mente, sistema nervoso, mediadores químicos, sistema imunológico, sistema
endócrino, receptores e genes, agindo em intrincada rede, terminam por expressar
uma situação de vida como equilíbrio ou desequilíbrio.
Relacionamos os seguintes pressupostos
da mente:
1.
Tudo
o que se passa na mente é processado pelo sistema nervoso e
transmitido às celulas . O cérebro é a central de execução no
organismo. Sem sua participação nada do que se passa na mente pode se
transmitido aos órgãos. Suas alterações funcionais e anatômicas interferem nas
suas mensagens para a mente.
2.
O
cérebro não analisa. Realidade ou fantasia produzem o mesmo efeito no
organismo.
É dessa maneira
que as pessoas sofrem mais com coisas imaginárias do que com reais. Se as escolhas
estivessem nos neurônios, as fantasias catastróficas, que geram malefícios para
o organismo, poderiam ser eliminadas e o malefício seria evitado. Entretanto, o
cérebro toma tudo como ordem a executar. É dessa maneira que funciona o biofeedback, técnica pela qual a mente é capaz de mudar o funcionamento
mesmo de órgãos normalmente fora do controle consciente.
3.
O
pensamento impregnado de emoção tende a se concretizar. A emoção dá ao
cérebro a sensação de realidade e o leva a trabalhar nesse sentido. Se o
pensamento e a emoção forem externalizados por palavras, cresce seu poder.
Isso vale para o que é bom e para o que é mau.
4.
A
mente inconsciente domina a vida mental e determina o
comportamento por meio do sistema de
crenças. Cada pessoa só se movimenta
dentro do limite das suas crenças, que são inconscientes. Para ir além é
preciso conscientizar-se das crenças limitantes e transformá-las em crenças
facilitadoras
5.
Para
a mente inconsciente o impossível não
existe, pois tudo são ondas de possibilidade. Os recursos da mente
inconsciente são ilimitados, porque as possibilidades quânticas são infinitas.
O que a pessoa decide que pode, conforme as leis do Universo, ela pode. Daí
porque, no nível quântico, toda cura é possível.
6.
A mente
inconsciente é sensível à sugestão. Todas as pessoas são inconscientemente sugestionáveis. Essa é a base da propaganda subliminar e da
hipnose. Todas as pessoas se sugestionam
o tempo todo com pensamentos repetitivos, alguns dos quais se tornam realidade.
7.
A
mente consciente só processa de 5 a 7 informações
simultaneamente . O resto é excluído do campo consciente. Quanto mais
focalizado o pensamento maior a eficiência.
Este é o princípio da meditação: acalmar a mente para ser mais eficiente
consigo mesmo.
8.
Um
pensamento ou uma afirmação repetidos muitas vezes tendem a ser aceitos como verdade
pela mente inconsciente.
É assim que uma
pessoa aceita rótulos que lhe são pregados em família, como incompetente,
desastrado, avoado, dos quais decorrem scripts
negativos, que vão ser desempenhados por toda a vida, como o da vítima, o
do pobre, o do azarado, o do desligado.
Aplicação na psicodermatologia
O conhecimento desses
pressupostos fornece ao dermatologista um recurso a mais para ajudar o paciente no campo mental, ampliando
sua atuação no tratamento das dermatoses.
Com base no pressuposto número 1, pode-se orientar o paciente sobre os
pensamentos que cultiva, explicando que tudo vai impressionar seu cérebro e que
daí segue para todas as células do organismo. Sendo assim, convém que suas
mensagens sejam sempre nutritivas e amorosas, pois suas células e, mais ainda,
como a epigenética demonstrou, seus
genes serão impressionados por elas.
O pressuposto número 2 ampara essa escolha, já que o cérebro é executor das ordens mentais. A escolha dos pensamentos é da consciência, do Eu, da essência da pessoa, daquele programador
da mente. Se a pessoa se lembrar de uma
previsão desastrosa que tenha feito e das sensações desagradáveis que sentiu
até que ela não se cumprisse, perceberá que sofreu sem motivo. O fato foi
imaginário, mas o sofrimento foi real. Daí porque a pessoa deve sempre escolher
e cultivar pensamentos que gerem
sensações prazerosas e amorosas.
A realidade do pressuposto número 3 já foi experimentada por todas as
pessoas. É aquela meta que alguém decide atingir, a qual, naquele momento, é
completamente improvável e, muitas vezes, a pessoa nem dos meios necessários
dispõe. No entanto, ela cria na mente a imagem do momento em que ela já tenha conseguido o que
quer, percebe-o como real, reafirma seu propósito e como que se desloca para
aquele ponto futuro, vê o que vai ver, ouve o que vai ouvir e sente a
emoção que vai sentir como se tudo fosse
real agora. Com isso, ela adquire energia e entusiasmo, faz o que está ao seu
alcance e vê outras coisas, que não dependem dela, cair nas suas mãos, como se
fosse mágica. Apesar da improbabilidade, ela concretiza sua meta, porque
mobiliza os recursos da mente inconsciente, que é movida pela emoção. Este
processo, que já ocorreu na vida de todos, chama-se visualização e é bem
descrito pela diretora da Clínica de Stress e Biofeedback, em Porto Alegre, Ana
Maria Rossi, PhD em psicologia clínica e comunicação verbal e mestre em
comunicação de massas (9). É um
método que pode ser realizado com qualquer paciente até no decorrer da
consulta.
O princípio
enunciado pelo pressuposto número 4 pode ser verificado na vida de cada
indivíduo apenas pela auto-observação. Basta considerar por que se fazem as
coisas de uma maneira e não de outra. Um exemplo muito comum é o da pessoa que
está convicta de que não tem pendor para determinada atividade, como falar em
público, matemática, dançar, dirigir ou qualquer outra. Isso entrava sua vida,
apesar de não haver motivo real para que ela continue com essa crença. Levar o
paciente a analisar alguma crença negativa (“sempre fui ansioso e não posso
fazer nada contra isso”), questionar a veracidade dela e sugerir-lhe uma mudança para o positivo (“como
você faz para se manter assim e não ser de outro jeito?”, “e se você
conseguisse, como seria sua vida?”, “o que o impede de tentar?”) pode dar-lhe grande ajuda no tratamento da
doença e na sua vida.
A nova física
apoia o pressuposto número 5. Quando alguém imagina algo, aquilo passa a existir
em algum nível do Universo. A idéia torna-se real em alguma dimensão
vibratória, de onde, por meios e ações adequados, pode concretizar-se. Qualquer tipo de mudança pode ser admitido,
porque é normal que as partículas se
comuniquem de modo não-local, instantaneamente e independentemente de tempo e
espaço. São fenômenos como a sincronicidade, o pensamento mágico, a telepatia,
as conexões telessomáticas e as curas milagrosas à distancia entre outros. Portanto, pode-se levar o
paciente a pensar no seu objetivo, por grandioso ou impossível que pareça, e entregá-lo ao inconsciente. Ele pode
aparecer na vida da pessoa por não-localidade, uma conexão sem sinal.
O pressuposto
número 6 é bastante testado na prática. As técnicas hipnóticas comprovam a sugestionabilidade
da mente inconsciente. Se as pessoas prestarem atenção ao que pensam vão
entender que seus pensamentos são traduzidos por palavras para elas mesmas o
tempo todo. Quer dizer que as pessoas falam consigo mesmas o tempo todo e,
antes de dizerem o que estão pensando para os outros, já disseram para si
mesmas. Analisando a qualidade dos seus pensamentos, vão verificar que grande
parte deles é negativa e que muitos se cumprem. São profecias autorrealizáveis.
É a prática da autossugestão. Então, o papel do médico é orientar seu paciente a escolher seus
pensamentos e só permitir os positivos, para que a autossugestão o leve sempre
para ações construtivas para si mesmo e para os outros. A própria maneira de o
profissional se expressar para o paciente e as palavras que escolhe geralmente o sugestionam sobre o tratamento e
os autocuidados.
Extraordinária
ajuda dará o médico que instruir seu paciente a meditar, atitude que é fundada
no pressuposto número 7. Quanto mais tranquila a mente maior é a eficiência
pessoal. E o meio mais efetivo de acalmar e focalizar a mente é a prática da
meditação, que pode ser definida como um estado de relaxamento alerta. É de
toda conveniência que o dermatologista integrativo tenha sua própria vivência
em meditação para transmiti-la convincentemente ao paciente.
O pressuposto número 8 torna-se claro pela
observação de que as pessoas sabem intuitivamente ou por alguma experiência
anterior que fazer uma afirmação pode levar a sua concretização, como é exemplo
a comum atitude de evitar falar sobre
algum fato que elas não querem que ocorra (“nem quero falar nisso para não
acontecer”). Recorde-se a quantidade de
vezes que se diz que não se tem capacidade para alcançar determinado
objetivo e a comprovação de que realmente
ele não é alcançado. E, por outro lado, pelos mesmos aspectos das coisas que se
afirma que tem competência de realizar e se consegue fazê-lo. Da maneira como
as pessoas pensam elas falam, da maneira como falam elas pensam e assim se
sentem e se comportam. Dizer para si mesmo frases positivas, ainda que
inicialmente não se acredite nelas, pode mudar a vida de qualquer pessoa. A afirmação positiva
de propósitos é um dos meios pelos quais uma pessoa pode mudar seu script de vida de perdedor para vencedor.
A frase repetida é gravada no inconsciente e produzirá seus efeitos, como expõe Louise Hay, professora e conferencista de
metafísica e autora de inúmeros livros sobre autoestima (10).
Conclusão
O entendimento de que mente é algo real, seja produzida
pelo cérebro seja dele independente, e o conhecimento dos pressupostos da mente possibilitam o uso
dos seus poderes no tratamento das dermatoses. Focalizar os aspectos mentais
que acompanham o quadro clínico pode eliminar fatores de manutenção ou
agravamento das doenças e pode mesmo mudar a vida da pessoa.
Referências
1.
Rita
Carter. O Livro de Ouro da Mente. Rio
de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 248.
2.
Daniel
G. Amen. Transforme Seu Cérebro,
Transforme Sua Vida. São Paulo: Mercuryo, 2000.
3.
Jeffrey
M. Schwartz, Sharon Begley. The Mind
& The Brain. New York:
Harper Perennial: 2003, cap. 2.
4. Rick Hanson, Richard Mendius. O Cérebro de Buda – neurociência prática
para a felicidade. São Paulo: Alaúde Editorial, 2012, p. 33.
5. Donald D. Hoffman. Conscious Realism
and the Mind-Body Problem. Mind
and Matter 2008;6(1):87-121.
6.
Deepak
Chopra, Ageless Body, Timeless Mind.
New York: Harmony Books,
c. 1993, p. 9.
7. Deepak Chopra, Leonard Mlodinow. Ciência e Espiritualidade – dois
pensadores, duas visões de mundo.
Rio de Janeiro:
Sextante, 2012, cap. 12.
8. Amit Goswami. O Médico Quântico. São Paulo: Cultrix, 2006, pp. 41 e 53.
9.
Ana
Maria Rossi. Visualização – atinja o
sucesso com os olhos da mente.
Rio de janeiro: Best Seller, 2008.
10. Louise Hay. O Poder das Afirmações Positivas. Rio de Janeiro: Sextante,
2009.